Serafim Ponte Grande
O “grande não-livro” de Oswald de Andrade A obra de Oswald de Andrade (ele odiava ser chamado de “Ôsvald”) é o que de mais porra-louca se escreveu na ficção brasileira. O escritor produziu em Serafim Ponte Grande uma súmula de todas as transgressões modernistas. O livro, publicado em 1933, é pura anarquia linguística e formal. Haroldo de Campos deu-lhe a perfeita definição: “um grande não-livro”. Realmente, a “anarco-forma” do Serafim é uma sequência de fragmentos de livros possíveis, unificados pela trajetória do protagonista, a todos os títulos mais um alter ego do escritor, como o de Memórias sentimentais de João Miramar (1922) . Cada um dos 11 episódios dá conta de uma fase da vida de Serafim e é uma obra-prima em termos de técnica narrativa. Duas figuras de linguagem presidem à composição. Na macroestrutura narrativa, emprega-se a sinédoque (parte pelo todo/todo pela parte), um tipo de metonímia: cada episódio não é propriamente narrado, mas indicado por anotações