Memórias de um sargento de milícias
Divertida crônica dos costumes da época de D. João VI A pergunta sobre a “utilidade” da literatura, que as mentes pragmáticas não se cansam de repetir, recebe boa resposta numa leitura atenta das Memórias de um sargento de milícias (1854/5), romance de Manuel Antônio de Almeida inicialmente publicado na forma de folhetim. O caráter dialético da moralidade em relação ao interesse, a relatividade do mérito para a ascensão social, os institutos do pistolão e do jeitinho brasileiro: esses temas com que certos sociólogos se comprazem em longas arengas científicas são apresentados pelo romancista, no seu único livro, com a saborosa despretensão característica do saber verdadeiramente lastreado. Assim, seguir as venturas e desventuras do malandro Leonardo, “filho de uma pisadela e de um beslicão” (e nascido apenas sete meses depois deles), conjuga o prazer do texto à compreensão sucinta das razões pelas quais o Brasil se tornou o que é. O autor, que era um estudante de medicina com