O louco do Cati
A sombra do Estado Novo paira sobre essa obra de Dyonélio “Exagero do mineiro?” – A resposta à pergunta feita por Flávio Moreira da Costa na orelha da quarta edição de O louco do Cati (1942) é afirmativa: sim, Guimarães Rosa estava exagerando quando o considerou um dos dez melhores romances brasileiros. Não é que o livro, com toda a sua estranheza, não seja bom. É que ele perde, bem antes de chegar à metade, o tônus narrativo inicial, virando uma sequência de peripécias meio ambíguas, meio irônicas das quais, quase sempre ao fundo da cena, participa a figura tímida do protagonista sem nome. Que pouco fala. Desde a primeira jornada, quando se incorpora a um grupo de amigos indo à praia num caminhão, ele é, sem qualquer análise mais detida, acolhido como doido manso por vários viajantes, aos quais em geral impõe despesas e algum incômodo. Isso começa com Norberto, o rapaz que o conduz ao longo do percurso encerrado numa prisão do Rio de Janeiro, capital da ditadura Vargas. (A sombra